PABLO ESCOBAR, MEU PAI – CAPÍTULO 8: Excentricidades
O conteúdo aqui traduzido foi tirado do livro Pablo Escobar, meu pai, de seu filho, Juan Sebastián Marroquín, sem a intenção de obter fins lucrativos. — RiDuLe Killah
CAPÍTULO 8
EXCENTRICIDADES
Palavras por Juan Sebastián Marroquín
Este relato pretende apenas mostrar como foi uma época que acabou mais de vinte anos atrás. Por conta da opulência, mergulhamos num turbilhão de excessos, gastos extravagantes e desperdícios. Minha intenção não é contar vantagem; quero apenas mostrar o mundo no qual cresci.
• Em meu nono aniversário, no ano de 1986, recebi um presente singular que, para mim, em minha imaturidade, não teve grande significado: uma caixinha com as cartas de amor originais que Manuelita Sáenz escreveu para Simón Bolívar. Também ganhei várias medalhas do libertador venezuelano.
• Dados sobre a fazenda Nápoles: tinha posto de gasolina próprio, oficina mecânica e funilaria para carros e motos; vinte e sete lagos artificiais; cem mil árvores frutíferas; a maior pista de motocross da América Latina; um parque com dinossauros em escala real; dois heliportos e pista de pouso de novecentos metros; mil e setecentos trabalhadores; três mil hectares, três zoológicos e dez casas espalhadas pelo terreno.
• No Natal, um dos helicópteros de meu pai era usado para distribuir natilla, bolinhos e até morcela; sem dúvida, uma maneira muito peculiar de aproximar a família.
• Os chocolates de minha primeira comunhão e os convites para ela foram trazidos da Suíça no jatinho particular de meu pai.
• O chef permanente no edifício Mónaco se chamava Gregorio Cabezas. Minha mãe o mandou para o país europeu, para que escolhesse os chocolates e o design dos convites, e de quebra pagou-lhe o melhor curso de chocolatier. Na volta, o jato fez escala em Paris para pegar vinte garrafas de Petrvs, um Pomerol de 1971, um dos vinhos franceses mais bem cotados do mundo. Dezenove garrafas acabaram depois indo para o lixo, porque ninguém as tomou e alguém disse para serem jogadas fora pois estavam velhas.
• As flores para a cobertura de mil e seiscentos metros quadrados dos dois andares do edifício Mónaco eram trazidas duas vezes por semana de Bogotá no avião de meu pai. Quando minha mãe pediu permissão para fazer isso, meu pai respondeu: “Meu amor, se Onassis mandava buscar pão quente em Paris para Jacqueline, eu mando um avião para lhe trazer flores de Bogotá.”
• Nas festas de família, eram frequentes as rifas de quadros de artistas famosos, assim como de esculturas e antiguidades.
• Eu tinha treze anos e meu pai resolveu que, para minimizar os riscos à minha segurança, eu deveria ter um apartamento de solteiro; o lugar tinha dois quartos grandes, o meu com espelhos no teto, um bar meio futurista, um tapete de zebra na sala e uma cadeira de Vênus.
• Minha mãe mandava bordar toalhas de mesa de linho em Veneza, na Itália; eram para a mesa de jantar de vinte e quatro lugares do edifício Mónaco. Por causa do tamanho e do nível de detalhe, as funcionárias demoravam entre três e quatro anos para terminá-las. Além disso, a famosa joalheria dinamarquesa George Jensen desenhou e fabricou um conjunto de louças de prata com os monogramas dos sobrenomes Escobar Henao entrelaçados. Quando minha mãe fez o pedido, lhe disseram que desde a época das realezas não recebiam uma encomenda tão grande como a nossa. A conta: 400 mil dólares. Contudo, toda a louça foi roubada em Medellín em 1993.
• Meus pais tinham a ideia de construir a casa de seus sonhos num dos melhores terrenos do bairro de El Poblado. Para tanto, contrataram os serviços de famosos arquitetos californianos que enviaram as plantas e a maquete de um projeto de quatro mil e seiscentos metros quadrados. A decoradora de minha mãe disse, aos gritos: “Esses arquitetos estão malucos, o hall da casa é maior que o do hotel Intercontinental, e dá para andar de carro pelos corredores.”
• A coleção de carros de meu pai incluía uma limusine Mercedes-Benz verde-militar que pertencera a Carlos Lehder e, antes dele, a um alto funcionário do governo alemão na Segunda Guerra Mundial; uma motocicleta italiana Moto Guzzi, propriedade de um general próximo ao ditador Benito Mussolini; um Mercedes preto conversível modelo 1977; uma diligência do Velho Oeste que importou dos Estados Unidos, com interior de couro, cortinas e detalhes em madeira; e um Porsche Carrera GT cor de café, seu primeiro carro esportivo.
• Em 1988, quando fiz onze anos, já possuía uma coleção de quase trinta motos de alta velocidade, bem como motocross, triciclos, quadriciclos, karts e bugres das melhores marcas. Tinha também trinta jet skis.
• As festas temáticas eram as preferidas de minha mãe. Tanto que mandava um alfaiate até a casa das famílias convidadas com a ordem de desenhar cada fantasia. Tudo por nossa conta. Assim, comemoramos os quinhentos anos do descobrimento da América com três pequenas caravelas na piscina e trajes da época. Também houve uma festa temática sobre a vida de Robin Hood, com arcos e flechas, espadas e cavalos. Todos os encontros e festas organizados por minha mãe contavam com a presença de nosso fotógrafo pessoal, que esteve inclusive no velório de meu pai; a festa de Halloween era especial e havia um prêmio para a melhor fantasia.
• Durante os seis ou sete fins de ano que passamos em Nápoles, meu pai mandou trazer da China contêineres repletos de fogos de artifício. Gastava 50 mil dólares em cada um. A metade dava de presente para seus homens e o resto era para nós. Nos primeiros dias de janeiro sobravam tantos que muitas caixas nem eram abertas.
• Quando estava grávida de Manuela, minha mãe foi várias vezes a Barranquilla com o jato de meu pai. Uma famosa estilista lhe fazia suas roupas de gravidez.
• O maior prêmio do campeonato particular de tênis do edifício Mónaco era um automóvel zero quilômetro. Participavam apenas familiares e amigos e, se o ganhador fosse rico, doava o carro para uma família mais pobre.
OUTRAS EXCENTRICIDADES
• Um maquiador e um cabeleireiro arrumavam minha mãe todos os dias; nas toalhas era bordado o nome de cada propriedade: La Manuela, Nápoles... As empregadas domésticas usavam uma roupa especial, recebiam um curso de maquiagem e minha mãe pagava uma manicure para elas; violinistas faziam a música de fundo dos jantares no edifício Mónaco.
Manancial: Pablo Escobar, meu pai
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