Lembre-se: não é só o mundo do CHS que é um ‘CHAO$’
Diretamente do KTT Zoo — uma área super bem reivindicada pelo hip-hop carioca desde muito tempo (Planet Hemp já fazia isso, mesmo não sendo realmente rep) —, surgiu o Nectar Gang, composto por JXNV$, CHS, Bril e BK’. Quatro niggas. Quatro niggas destinados a uma coisa, a uma só coisa: fazer dinheiro e estragar tudo.
Cansados de esperar favor dos outros e depender da boa vontade deles, edificaram uma gravadora cujo nome é icônico: Pirâmide Perdida. Desde 2015 eles não precisam mais se preocupar com tanta urgência assim de ter seus trampos na rua, porque as atividades não param por lá (mesmo que feita em silêncio, como eles sempre gostaram de trabalhar).
Com uma ausência inesperada do Nectar, CHS pensou: “Bom, já que minha clique está ausente devido ao foco em outras coisas no momento, vou esquentar a cena um pouco com meu jogo de palavras ímpar e uma lírica afiada para mostrar que ainda estamos vivos.”
Formadão em web design, CH, que até poderia dar aula nesse ramo se quisesse, fez a própria capa do EP. (Para quem disse que ele só sabia fazer arte, acertou em cheio, porque ele é um artista excelso.) Seu estilo-robô bombou tanto que até os haters dialogaram entre si.
BOOM!
“Caralho! O que foi isso?!”
“É o CHS, mano. Foi o impacto causado pelo seu CHAO$. Fuja ou seremos mais atingidos do que já fomos!”
Foi assim que tudo começou por aí.
Disponibilizado em Abril de 2k18, com participações de Luccas Carlos, BK’ e Cachorro Magro e com produções de Poik, Mind, El Lif Beatz, JXNV$, GoriBeatzz, Bolin e Victor Henry, pega a visão de como foi esse CHAO$, faixa-a-faixa abaixo.
Quem viver, verá
Que Boom bap, hein Gori? Virgem Maria te abençoe, meu filho, porque nessa produção você sentou no trono do Rei — não que nas outras isso não tenha acontecido, mas nessa você matou. E Erik com esses arranhões? Vichi! Cêéloko, bicho! Soa completamente diferente nos ouvidos. Traz uma sensação de que o DJ ainda é importante, porque hoje em dia está cada dia mais esporádico vê-los atuando.“O caos não tem estado, nem figura. Ele não pode ser imaginado. É um espaço que só pode ser conhecido pelas coisas que nem existem e ele contém um universo infinito.” Por isso, de acordo com a sua linha de raciocínio de certo modo afetada, “a sanidade passa longe e a loucura, perto.” Isto é, a vida que ele tem vivido está fazendo com que ele esteja distante da sanidade, consciência. Seu pensar já não surte tanto efeito quando mais precisa, enquanto a loucura ganha cada dia mais espaço. Está sempre de mãos dadas. Ubíqua.
“Porque o teu sonho é abstrato, a cidade é concreto.” [Foda!] Nosso sonho, ao contrário da cidade — que é feita de concreto —, é impalpável, ou seja, não podemos tocá-lo, apenas senti-lo e/ou imaginá-lo.
“Tô preferindo me drogar do que ficar quieto.” Ele demonstra sua introspecção frequentemente. Eis aqui uma linha em que é explícito o caos dentro de si. Sua perturbação interna já está fazendo com que ele prefira se drogar do que ficar quieto, entediado. Digamos que se drogando ele vai ter o que fazer (é o que ele quer fazer). Quem viver, verá. Se você desacredita, então relaxa, senta e embarca na sessão, porque um dia a onda passa, mas a idéia, não. A idéia fica. A idéia permanece na onipresença.
“Não vou cair. Quem viver, verá.” — CHS
Buscando se equilibrar na ponte (“Por mais que o caos aqui embaixo é comum/ Divindade ou um milagre, aqui embaixo é comum/ Aqui embaixo o amor e o ódio é comum/ A pobreza e a riqueza aqui são comuns”), ele usa o “aqui embaixo” podendo se referir com exatidão ao tema da música. Ou seja, “aqui em baixo é assim... Quem viver, verá.” Quando você se sentir mal, estiver para baixo, é assim que é lá em baixo.
Sucinto mas exuberante, o segundo verso traz linhas impactantes. Reflexivas.
“Eu vi meus manos indo pro outro lado. Eu vi que a vida é mesmo descartável. Eu sei que a morte é inevitável. Mas morrer cedo, irmão, é inaceitável.” Primeiro, ele viu seus manos indo para o caminho do crime, drogas, falência (financeira ou espiritual). Segundo, deixa claro o que já é óbvio: que a vida é realmente descartável, sem valor… e a morte é inevitável, que estamos aqui de passagem… abalado por causa da perda de pessoas queridas em sua vida. Terceiro, ele soa mais ou menos como na música “Canto das Baixas” da mixtape Pirâmide Perdida Vol. 7 duas vezes: 1) “Eu vi meus manos indo pro outro lado”. 2) “Mas morrer cedo, irmão, é inaceitável” (onde aqui ele substitui “mano” por “irmão”).
“Não existe nada, mano, inacessível.” Acredite no seu potencial. Você pode. Você consegue. Só depende de você, da sua força de vontade. Mesmo que digam-lhe que você não vai alcançar, etc., foda-se, faça você mesmo e honre sua passagem aqui na Terra! Por isso, o que ele [invejoso; recalcado] fala que é impraticável, transforme tudo num plano infalível, para assim você seguir inabalável e com sede de conquista!
O Mestre Mandou
Mesmo não sendo de obedecer ordens, CHS fez o que o Mestre mandou. Era obedecer ou peregrinar por caminhos perniciosos. Por isso, ele entrou pela porta da frente e iniciou a música com o refrão e nas primeiras linhas usou de uma jogada perfeita, o estilo de rimas A-B:
Eu acordei desafiando os deuses da vida (A)
Eu levantei, decidi ganhar esse mundo lá fora (B)
Se eu me perder, eu já sei onde encontrar a saída (A)
Se eu me jogar, eu tô seguro, eu dispenso a sua corda (B)
Logo após, de tanto que disseram isso e aquilo para ele, ainda teve mais: “Como dizia um velho sábio que eu escutei uma vez: ‘Faça o que quiser, há de ser tudo da lei.’” Aqui pode ter dois sentidos: 1) Segundo a Lei de Thelema, criada em 1900 por Aleister Crowley, seu lema é “Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei. O amor é a lei, amor sob vontade.” 2) Raul Seixas usou praticamente a mesma frase em sua música “Sociedade Alternativa” (1974), que até hoje é reverenciada: “Faça o que quiser, há de ser tudo da lei.” (De fato, não dá para saber de qual velho sábio ele referenciou, porque os dois são geniais.)
“Meus irmãos já disseram, que o arrego é bala.” Seus manos não aceitam grana suja, pagar para continuarem livres. Dinheiro sujo não é bem-vindo nesse ambiente. Eles não vão coçar o bolso para pagar nada, e sim largar o aço para cima de quem ousar cobrá-los. Diferente da Polícia, que é, inclusive, retratado no filme Tropa de Elite (2007).
Após fazer um refrão como o Mestre mandou, ele atravessa a ponte e já sai lá no segundo verso, onde também recebeu ordens: “Eu tento obedecer regras mas elas não gostam de mim.” É viável afirmar que “elas não gostam de mim” pode significar que ele tenta obedecê-las mas não consegue, não foi feito para receber ordens.
Logo vem outra ponte, em que ele atravessa cantando: “Nunca me prendi, não vá se prender. Nunca me perdi, não vá se perder. Se eu não te devi, não queira me dever. Existe a lei do retorno, só essa eu vou obedecer.” (Acho que essa quem obedeceu foi o Mestre.)
Agora, deixando o ceticismo de lado, ele acredita na rima: “Eu já a vi salvar vidas.” E deve ser por isso que o nome da faixa seguinte é...
Inspiração
Pega a visão: Beat do Phill quando vem, cê já sabe (...) Ele faz o melhor beat quando está com ela. É bomba sonora. Te explode.CHS e Luccas Carlos se unem para fazer parecer que essa inspiração é uma mulher, mas não. Soa perfeitamente. São os dois dependentes da visita dela para conseguir fazer seu trabalho fluir melhor. Ela até realiza isso, e depois os abandona. Ela os excita e também os emociona. Ela passa dias sumida, já que não pode ser comprada. Mas independente da sua ausência, eles sempre dão conta.
No entanto, CHS tenta sempre fazer tudo certo, mesmo sem contar com ela — que quando chega perto, instiga, e ele rapidamente consegue absorver para usufruir desse sentimento efêmero. Tanto que quando ela atravessa seu caminho, ele se sente só ao vê-la partir. Porque, sem sombra de dúvidas, com ela presente ele faz tudo melhor (bem melhor).
Com ela ele escreve de tudo, seu talento aumenta. Ele fuma e vê outro mundo, porque sóbrio ninguém aguenta. Ela dava um dois junto com Bob Marley, ajudou Leonardo da Vinci. Abençoada seja sua presença, que já esteve com ele em rodas de freestyle na Lapa e até na suíte. Maldição ficar na sua ausência, ele reza e faz uma prece. Pede que ela o entenda, e é na madruga que ela sempre aparece, enquanto durante o dia ela sempre se ausenta.
Às 8:00 a.m. Luccas acorda sem saber por que. (Vai saber.) Porque quando ela vem, não tem como saber... toma conta de você. Uma hora depois, ele ainda está lá com ela, se deleitando.
Estando nessa há mili, mili, a cada uma jogada, um preço. E nessa, vários foram de ralo. É assim que a vida funciona. Você é sua escolha. Você é aquilo que escolhe. Todavia, mesmo sem grana ele já tinha visão. Foi isso que fez com que ele se juntasse a CH para vê-los imitar (é uma pena você não ter imaginação para ser autêntico). Sem ter nada além de versos escritos, ele nunca te viu, e agora você quer colar para se dar bem? Agora quer chegar junto? Por isso ele perguntou aonde você estava, brother. Pega a visão!
CHS, ainda abalado sem a inspiração e brigando com o sono e com o mundo, ele está tentando ficar sóbrio e rico. Ele brinda a vida, sabe que é difícil (às vezes ele nem liga), sobretudo brigando com Deus (às vezes e sem motivo). Então deve ser por isso. Capaz de ser castigo.
Quando ela está com Phill, ele faz o melhor beat. Quando ela está com ele, sua capacidade de fazer a melhor rima é infinitamente maior. Quando ela está contigo, você tem o melhor dia (sem dúvidas). Ele sabe que quando fez seu filho, teve que gastar toda essa energia. [É] íncrível o poder que ela tem. Ele fuma para ver se a encontra. Ele bebe para tentar vê-la, mesmo às vezes passando do ponto. [É foda...] separa horas de trabalho, e não consegue nada... como não ficar puto? Mas quando ela está do lado, tudo é feito em um minuto.
A todos os deuses da escrita, agradecimentos a sua presença. A todos os deuses da rima, essa vai ser sua oferenda. A todos os deuses (bênção). A todos amigos (bênção). A seus inimigos (foda-se). Suas inspirações (bênção). Rajada de bênçãos!
Futura Ex
“Bem antes de ser palhaço, eu te ofereci um palácio. Não vou me redimir, dizer o que quer ouvir... Então paramos por aqui, mina. É mais fácil. Antes de dizer ‘te amo’ ou eu cometer um engano, eu nem quero o seu mal. Então não me leve a mal: esse é o ponto final. Reduzimos todos os danos. Não sou o vilão, eu sei bem o meu papel. Me dá sua mão que eu te levo até o sétimo céu. Te ofereço o mundo, só que ele gira rápido. Cê me oferece o seu, e eu nem sei se eu tô apto. Com ela vão ser as minhas futuras brigas, junto dela vão ser minhas futuras dívidas. Confesso que eu tenho algumas dúvidas e às vezes problemas com umas bebidas” cuspiu CHS no primeiro verso, erigido por 21 linhas.Mesmo não sabendo o nome dela, ah, ele só a viu uma vez. Mas ela tem grandes chances de ser sua futura ex (ele já teve esse sentimento e... não deu bom da última vez). Entretanto, “é fato que essa mulher vai ser minha futura ex”, disse ele.
“Tem mina que ergue o punho e grita: ‘Pussy Power!’” (Sim, tem mina que sabe usar bem esse poder [hahahahaha]). Para destravar essas minas, precisa ser [o agente especializado] Jack Bauer.
“Seria cômico, mas se não fosse trágico/ Seria triste, mas se não fosse mágico/ Faço o difícil parecer tão fácil/ Mostrar que o novo pode se tornar um clássico.” Aqui CH, com sua magia, faz o difícil parecer fácil e mostra que seu novo projeto solo pode se tornar um clássico tranquilamente (por que não?). Um projeto curto na duração, mas incomensurável no tamanho da magnificência aqui expressada. Muitas linhas fazendo sentido, usufruindo do melhor néctar.
Apesar de o nome desse som já ser bem sugestivo, o pensamento é foda, meio negativo. Logo, ele já fica mais para lá do que para cá. Mas até o psiquiatra disse que não é normal. (É de se preocupar.)
[Irrefutavelmente CHS tirou onda nessa faixa. Toda a ambientação da música, o que ela agrega ao ouvinte, muito provavelmente, dizendo ao pé da letra, mexeu de alguma forma com tal consciência. Nunca é um registro qualquer, mas aqui ele se envolve legal. O desenvolver da música é único. Digamos que você só poderia esperar isso dele.]
Denaro
Nectar Gang está na casa — exceto Bril, que devido a problemas pessoais não pôde piar; mas sua clique vai levar algum para ele [hahahah].Cash significa dinheiro em inglês, e denaro, [o mesmo] em italiano. Nesse registro eles enfatizam sua sede pelo próprio, que é um mal — interprete corretamente! — necessário na vida do ser humano.
O refrão, que abre a faixa, contém, novamente, rimas A-B.
“Me pego atravessando o deserto (A)
Sonhando com o cheiro do malote (B)
Os cães me farejam e tão por perto (A)
Separem o dinheiro do coiote” (B)
A referência das quatro linhas pode ser a seguinte: atravessando o deserto sonhando pegar o dinheiro que está com o coiote (guia; entregador), os cães farejam tentando encontrá-los, mas eles precisam encarar os obstáculos para ter êxito na ação. É um risco que cada um precisa correr para conseguir o denaro. Ademais, eles têm dois ou três obstáculos: cães e deserto — e possivelmente o coiote, por ter corrido o risco, com BK’, CHS (e JXNV$) precisando tirar uma parte para pagá-lo.
Se os loucos querem denaro, CHS é mais um. Ele vive num “American dreams from KTT Zoo”, aludindo ao sonho americano, como eles dizem lá, visando ter uma vida boa e sem se preocupar em gastar dinheiro, ele vem do KTT Zoo. É de lá que ele vem.
“É grana, grana, dollar, dollar bill, y’all.” Aqui tende a ser uma perfeita alusão à música do supergrupo Wu-Tang Clan “C.R.E.A.M.”, em que é dito no refrão “Cash, rules everything around me, CREAM, dollar dollar bill, y’all”.
“Roubando a cena pra nunca roubar (brisas)/ Entende minha letra, prometo salvar (vidas)/ Pra tudo que tocar virar ouro (Midas).” 1) Ele usa “roubando” no sentido de superar os outros MCs, ser o mais notório na cena, e o “roubar (brisas)” é tipo cortar sua vibe, estragar seu momento, de alguma forma. 2) Entendendo suas músicas ele promete que vai manter seu talento em alta para salvar vidas, como muitos já fizeram. 3) Midas era um rei que, por ter ajudado a salvar Sileno (o pai de criação de Baco) de um incidente, foi oferecido por Baco o direito de escolher a recompensa que desejasse. Midas pediu que “tudo que tocasse virasse ouro”. O resto é história.
Piando no segundo verso, BK’ emerge: “Eu sou um preto sem limite tipo American Express.” Isto é, ele se compara ao cartão de crédito americano preto, que é dado somente a quem tem um imenso poder aquisitivo. Sendo assim, Bikila se refere a si mesmo como um preto sem limite que gasta à vontade.
“S.A., Pedro Américo/ Todos tem seu valor, mas eu tô atrás do numérico.” S.A. significa Santo Amaro, e logo ele enaltece Pedro Américo, uma rua do Catete. E, não porventura, ele faz alusão ao valor numérico como dinheiro, buscando além de ser valorizado como pessoa e/ou artista.
“E os cara falam que eu sou bom/ Só faltava ser gringo.” Clara alusão ao verso do MC Shawlin na música “Mundo do Rap”, onde ele diz “Alguns dizem que eu sou bom, que só faltava ser preto/ Alguns dizem que eu sou bom, mas falta ter sido preso.”
“Fazendo o din e o jingle.” Ao pé da letra, “jingle” significa tinir, chacoalhar. Isto é, o ato de fazer o C simbolizando uma quantia elevada de dinheiro e agitar a(s) mão(s) é a exibição de que ele está com o dinheiro que ele fez.
“Pirâmide é Roc-A-Fella.” Referente à gravadora que Jay-Z edificou em seus primeiros anos de luz durante a década de 90. Ele quis dizer que [seu selo] Pirâmide é grande e importante na expansão do hip-hop.
“Na SoHo, meus planos, não tire sarro.” Se for o que parece, “SoHo” é um distrito no sul de Manhattan, Nova York, conhecido por seus sótãos e galerias industriais ocupadas pelos artistas. Seu nome é derivado de So uth da Ho uston Street.
“A luz vermelha cada vez mais perto/ Deixo o do café e saio no pinote.” A luz vermelha significa a polícia, e para não ser pego, deixa uma grana para eles na intenção de suborná-la para seguir viagem tranquilo com seu denaro.
Para começar arrebentando a boca do balão, presta atenção no refrão:
Se fodeu quem disse que CHS não faz arte. Se fodeu MESMO! Relembrando Denzel Washington no filme Dia de Treinamento, King Kong é mico perto do CHao$. Foda-se o exagero. Verdade seja dita. Não é tão difícil reconhecer um gênio.
“Ando com a cabeça quente, calor quarenta graus.” Eu já sabia. [Eu sabia que] a idéia estava quente? É por isso. Foi por isso que saiu esse registro.
“Cê nunca vai me ver cansado, eu ando sempre com o relógio adiantado. Então, chapa, cê nunca vai me ver atrasado.” Fazendo jus ao nome da música, ó! Justo! Perf!
“Melhor remédio é tu saber onde limite marca.” É mais que ideal saber o limite de tudo. Saber quando sua mente está cansada. Seu corpo. Suas idéias. Saber a hora de parar ao brincar com alguém. Tudo é dose. Saber dosar é o bicho. Não é para qualquer um.
“Alguns manos presos vendendo gramas, na cadeia aprendendo a vender quilos.” Nunca foi mistério que dentro de prisões rola vendas de drogas. Isso sempre existiu (Marcados Pelo Sangue (1993)).
“Na cela com trinta manos, vive num cotidiano/ Convivendo num espaço pequeno pra quinze.” Impecável alusão às prisões superlotadas. Aqui, a referência direta é para uma cela que deveria ter quinze detentos mas têm trinta.
Primeiro verso: Missão cumprida. Vamos de segundo.
“Me disseram que eu não faço arte. Me disseram que eu não faço rep.” Faz não... Ele trabalha engraxando sapato e canta pagode. Vocês que fazem. Vocês que são os mestres. São os mestres que mandaram-no fazer aquela segunda faixa lá. Vocês que sabem de tudo e manjam da porra toda. Os oniscientes da Terra.
“Me disseram que perder ainda faz parte. Tá bom, isso é historinha pra moleque.” Perder nunca está entre seus planos. CHS entra no ringue para vencer ou vencer. Foi-se o tempo em que isso mexia com sua mente.
“Dinheiro é meta, pra alguns é mato.” Ele visa ter muito dinheiro igual alguns têm. Ou seja, sendo mato para alguns, significa muito.
“Seu pensamento é muito raso, manso... por isso que seu trampo nunca avançou.” Enquanto você continuar sendo acomodado e pensando dentro da caixa e superficialmente, nada vai acontecer em prol do seu progresso. Vai viver estagnado no retrocesso.
“Cortando igual Hattori Hanzō” Referência irada ao ninja japonês Hattori Hanzō, que tinha uma grande habilidade com as espadas.
A musica em si é uma emblemática referência ao ex-lutador de boxe Muhammad Ali, que quando lutou contra George Foreman em 1974, o derrubou sem muita dificuldade e o público gritava “Ali, bomaye!” (Ali, mate-o!) em Lingala.
“Ali bomaye! Eu vejo o inimigo beijar a lona. Ali bomaye a quem se propôs a jogar contra. Essa é pra todos os corredores. Essa é pra todos os vencedores. Pra quem se mantém em pé nas dores. Na luta contra o forte ache seu ponto fraco. Não vá contar com a sorte. Contar com os outros é fácil. Eu quero encher o bolso, não vem encher o saco! Se for esperar pela minha queda, melhor tu esperar sentado. Aprendo com o passado e eu vejo o futuro enquanto muitos pensam no atual. Tamo um passo a frente. Sou senhor do tempo, eu faço a minha história ser atemporal. E eu que faço disso meu trabalho... acendo, puxo, prendo, passo, solto. Rimo, escrevo, gravo. Mano, faço disso meu salário. Uns querem buscar fama. Não siga meus passos. Eu corro atrás de grana, e não de alguns centavos. A vida é tipo um vidro e quebra vários cacos. É melhor tu ter histórico do que tu ter status.” Esse é o primeiro — e impecável — verso.
No refrão, destaca-se uma máxima: “Sigo liderando essa corrida. Pra quem nunca suou camisa vai se contentar ficar com a prata.” Ou seja, CHS segue suando a camisa para continuar em busca do ouro, e quem não fizer por merecer vai ficar para trás, se contentando com a prata.
[Essa vai para todos os jogadores. Um salve para todos os vencedores. Para todos os vencedores que correm na busca pela realização das metas e sonhos. Para todos os vencedores: não desistam! Para todos os vencedores: jamais desistam!]
Nas doze linhas de seu verso, Cachorro Magro esmaga o adversário com seu flow acelerado. Mesmo apanhando da vida, conseguiu se esquivar, desviou e se redimiu.
“Tentou me jogar pra lá e eu de Muhammad Ali.” A vida tentou jogá-lo para o chão mas ele foi rápido como Ali, lutando de pé, concentrado.
“Normal pra mim sempre foi obstáculo na batalha.” Sem luta, sem progresso. Logo, sem obstáculo, sem sede de vitória. Ele sempre teve [obstáculos] na vida, e até então os venceu e está aqui, novo em folha.
“Quem tem medo de perder não teve que juntar as tralha.” Indubitavelmente, o fraco é tão inútil que tem medo, ou seja, nem teve a coragem de pelo menos entrar no ringue, encarar as adversidades. Logo, se não arrumou as tralhas para ir à luta, não teve que juntá-las.
“Quem não faz esforço vai ficar lá embaixo.” Estando no céu (topo), só vai conseguir chegar lá em cima quem fizer esforço e superar as dificuldades. Sem dor, sem glória.
“Roubando a cena pra nunca roubar (brisas)/ Entende minha letra, prometo salvar (vidas)/ Pra tudo que tocar virar ouro (Midas).” 1) Ele usa “roubando” no sentido de superar os outros MCs, ser o mais notório na cena, e o “roubar (brisas)” é tipo cortar sua vibe, estragar seu momento, de alguma forma. 2) Entendendo suas músicas ele promete que vai manter seu talento em alta para salvar vidas, como muitos já fizeram. 3) Midas era um rei que, por ter ajudado a salvar Sileno (o pai de criação de Baco) de um incidente, foi oferecido por Baco o direito de escolher a recompensa que desejasse. Midas pediu que “tudo que tocasse virasse ouro”. O resto é história.
Piando no segundo verso, BK’ emerge: “Eu sou um preto sem limite tipo American Express.” Isto é, ele se compara ao cartão de crédito americano preto, que é dado somente a quem tem um imenso poder aquisitivo. Sendo assim, Bikila se refere a si mesmo como um preto sem limite que gasta à vontade.
“S.A., Pedro Américo/ Todos tem seu valor, mas eu tô atrás do numérico.” S.A. significa Santo Amaro, e logo ele enaltece Pedro Américo, uma rua do Catete. E, não porventura, ele faz alusão ao valor numérico como dinheiro, buscando além de ser valorizado como pessoa e/ou artista.
“E os cara falam que eu sou bom/ Só faltava ser gringo.” Clara alusão ao verso do MC Shawlin na música “Mundo do Rap”, onde ele diz “Alguns dizem que eu sou bom, que só faltava ser preto/ Alguns dizem que eu sou bom, mas falta ter sido preso.”
“Fazendo o din e o jingle.” Ao pé da letra, “jingle” significa tinir, chacoalhar. Isto é, o ato de fazer o C simbolizando uma quantia elevada de dinheiro e agitar a(s) mão(s) é a exibição de que ele está com o dinheiro que ele fez.
“Pirâmide é Roc-A-Fella.” Referente à gravadora que Jay-Z edificou em seus primeiros anos de luz durante a década de 90. Ele quis dizer que [seu selo] Pirâmide é grande e importante na expansão do hip-hop.
“Na SoHo, meus planos, não tire sarro.” Se for o que parece, “SoHo” é um distrito no sul de Manhattan, Nova York, conhecido por seus sótãos e galerias industriais ocupadas pelos artistas. Seu nome é derivado de So uth da Ho uston Street.
“A luz vermelha cada vez mais perto/ Deixo o do café e saio no pinote.” A luz vermelha significa a polícia, e para não ser pego, deixa uma grana para eles na intenção de suborná-la para seguir viagem tranquilo com seu denaro.
Ponteiro
[Na minha opinião], eis aqui um dos flows mais sinistros que CHS já cuspiu em todos os seus sons gravados existentes na Terra. Ademais, para ser mais claro, o registro todo. Lírica afiada, idéia quente, mente borbulhando, com Bolin complementando firme com essa produção magnífica.Para começar arrebentando a boca do balão, presta atenção no refrão:
Se a vida não me abrir as portas, eu viro chaveiro
E se essa não for minha hora, eu altero os ponteiros
E se a mina não vai me dar bola, eu viro artilheiro
E se o sol não nasce pra todos, eu acordo mais cedo
Se fodeu quem disse que CHS não faz arte. Se fodeu MESMO! Relembrando Denzel Washington no filme Dia de Treinamento, King Kong é mico perto do CH
“Ando com a cabeça quente, calor quarenta graus.” Eu já sabia. [Eu sabia que] a idéia estava quente? É por isso. Foi por isso que saiu esse registro.
“Cê nunca vai me ver cansado, eu ando sempre com o relógio adiantado. Então, chapa, cê nunca vai me ver atrasado.” Fazendo jus ao nome da música, ó! Justo! Perf!
“Melhor remédio é tu saber onde limite marca.” É mais que ideal saber o limite de tudo. Saber quando sua mente está cansada. Seu corpo. Suas idéias. Saber a hora de parar ao brincar com alguém. Tudo é dose. Saber dosar é o bicho. Não é para qualquer um.
“Alguns manos presos vendendo gramas, na cadeia aprendendo a vender quilos.” Nunca foi mistério que dentro de prisões rola vendas de drogas. Isso sempre existiu (Marcados Pelo Sangue (1993)).
“Na cela com trinta manos, vive num cotidiano/ Convivendo num espaço pequeno pra quinze.” Impecável alusão às prisões superlotadas. Aqui, a referência direta é para uma cela que deveria ter quinze detentos mas têm trinta.
Primeiro verso: Missão cumprida. Vamos de segundo.
“Me disseram que eu não faço arte. Me disseram que eu não faço rep.” Faz não... Ele trabalha engraxando sapato e canta pagode. Vocês que fazem. Vocês que são os mestres. São os mestres que mandaram-no fazer aquela segunda faixa lá. Vocês que sabem de tudo e manjam da porra toda. Os oniscientes da Terra.
“Me disseram que perder ainda faz parte. Tá bom, isso é historinha pra moleque.” Perder nunca está entre seus planos. CHS entra no ringue para vencer ou vencer. Foi-se o tempo em que isso mexia com sua mente.
“Dinheiro é meta, pra alguns é mato.” Ele visa ter muito dinheiro igual alguns têm. Ou seja, sendo mato para alguns, significa muito.
“Seu pensamento é muito raso, manso... por isso que seu trampo nunca avançou.” Enquanto você continuar sendo acomodado e pensando dentro da caixa e superficialmente, nada vai acontecer em prol do seu progresso. Vai viver estagnado no retrocesso.
“Cortando igual Hattori Hanzō” Referência irada ao ninja japonês Hattori Hanzō, que tinha uma grande habilidade com as espadas.
Ali Bomaye
Essa toca o coração legal, também. Um Trap para ninguém botar defeito, do Victor Henry. Toda a ambientação que a música transmite proporciona uma sensação de vitória; uma faixa perfeita para encerrar um projeto. Um trampo minuciosamente bem elaborado. CHS se diverte trabalhando.A musica em si é uma emblemática referência ao ex-lutador de boxe Muhammad Ali, que quando lutou contra George Foreman em 1974, o derrubou sem muita dificuldade e o público gritava “Ali, bomaye!” (Ali, mate-o!) em Lingala.
“Ali bomaye! Eu vejo o inimigo beijar a lona. Ali bomaye a quem se propôs a jogar contra. Essa é pra todos os corredores. Essa é pra todos os vencedores. Pra quem se mantém em pé nas dores. Na luta contra o forte ache seu ponto fraco. Não vá contar com a sorte. Contar com os outros é fácil. Eu quero encher o bolso, não vem encher o saco! Se for esperar pela minha queda, melhor tu esperar sentado. Aprendo com o passado e eu vejo o futuro enquanto muitos pensam no atual. Tamo um passo a frente. Sou senhor do tempo, eu faço a minha história ser atemporal. E eu que faço disso meu trabalho... acendo, puxo, prendo, passo, solto. Rimo, escrevo, gravo. Mano, faço disso meu salário. Uns querem buscar fama. Não siga meus passos. Eu corro atrás de grana, e não de alguns centavos. A vida é tipo um vidro e quebra vários cacos. É melhor tu ter histórico do que tu ter status.” Esse é o primeiro — e impecável — verso.
No refrão, destaca-se uma máxima: “Sigo liderando essa corrida. Pra quem nunca suou camisa vai se contentar ficar com a prata.” Ou seja, CHS segue suando a camisa para continuar em busca do ouro, e quem não fizer por merecer vai ficar para trás, se contentando com a prata.
[Essa vai para todos os jogadores. Um salve para todos os vencedores. Para todos os vencedores que correm na busca pela realização das metas e sonhos. Para todos os vencedores: não desistam! Para todos os vencedores: jamais desistam!]
Nas doze linhas de seu verso, Cachorro Magro esmaga o adversário com seu flow acelerado. Mesmo apanhando da vida, conseguiu se esquivar, desviou e se redimiu.
“Tentou me jogar pra lá e eu de Muhammad Ali.” A vida tentou jogá-lo para o chão mas ele foi rápido como Ali, lutando de pé, concentrado.
“Normal pra mim sempre foi obstáculo na batalha.” Sem luta, sem progresso. Logo, sem obstáculo, sem sede de vitória. Ele sempre teve [obstáculos] na vida, e até então os venceu e está aqui, novo em folha.
“Quem tem medo de perder não teve que juntar as tralha.” Indubitavelmente, o fraco é tão inútil que tem medo, ou seja, nem teve a coragem de pelo menos entrar no ringue, encarar as adversidades. Logo, se não arrumou as tralhas para ir à luta, não teve que juntá-las.
“Quem não faz esforço vai ficar lá embaixo.” Estando no céu (topo), só vai conseguir chegar lá em cima quem fizer esforço e superar as dificuldades. Sem dor, sem glória.
Sem comentários