Saiba como a capa do disco ‘Sobrevivendo no Inferno’ do Racionais MC’s foi feita


No final de 1997, Marcos Marques teve a honra de fazer essa capa emblemática para o terceiro disco do grupo mais perigoso do Brasil. O disco, que já foi 2x Diamante, perpetuou-se com hinos como “Fórmula Mágica da Paz”, “Mágico de Oz”, “Capítulo 4 Versículo 3”, e “Diário de um Detento”.

Os Racionais MC’s estavam na estrada há quase dez anos, e o público hip-hop no Brasil já os idolatravam, assim como o N.W.A em Los Angeles. — RiDuLe Killah


Em 2007, a Revista Rolling Stones Brasil elegeu Sobrevivendo no Inferno como o 14º melhor álbum da música brasileira.

Sobrevivendo no Inferno colocou o rap no topo das paradas, vendendo mais de meio milhão de cópias. A música, com sua bateria básica, alguma melodia nos teclados, e arranjos simples, vira adereço em relação ao impacto das letras. Racismo, miséria e desigualdade social — temas cutucados nos discos anteriores — são aqui expostos como uma grande ferida aberta, vide ‘Diário de um Detento’, inspirada na grande chacina do Carandiru.

Em sua conta no Facebook, Marcos compartilhou:

“Em 1997 eu era diretor de arte da revista RAÇA. Estava na minha mesa quando o telefone tocou. Era o Ice Blue. Eu já era fã dos caras e não estava acreditando que ele queria falar comigo. Eles curtiam o trabalho que eu estava fazendo na revista e me convidaram para fazer a direção de arte do encarte do CD. Fiquei honrado com o convite.
A primeira reunião foi no Capão Redondo junto com o Mano Brown. Blue dirigia o carro, levei meu irmão Douglas Marques que também adorava os Racionais. Em uma das quebradas do Capão, cruzamos com um camburão da Rota. Ali naquele momento vi um gigante encarando todo o sistema. Ice Blue com o vidro do carro abaixado, passou bem devagar e encarando altivo e fulminante os policiais.

Chegamos para a primeira reunião com o grupo. Para as fotos convidei o Klaus Meiodavila e para a produção a energética Margareth Tagliapietra. Umas das fotos que eles queriam eram com armas. Mais uma vez em uma quebrada do Capão, já com a van da produção para mais um dia de fotos, chegaram 3 carros em alta velocidade e freando. Sairam de dentro do carro engatilhando escopetas e todo tipo de arma que eu nunca tinha visto. Chegaram as armas. Só ouvi alguém dizendo: coloca as armas no carro da imprensa que é limpeza. Fomos até o local das fotos com a van carregada de armas. Ficamos com o cu na mão, mas foi tudo bem.

Para a capa eles queriam a foto do grupo em frente a uma igreja. Fizemos com os quarto e também com uma galera que eles convidaram para a cena da foto. Até o Edinho, filho do Pelé, participou das fotos. No dia de apresentar o encarte e a capa para aprovação, percebi que eles não tinham curtido a foto da capa. Frio na barriga. E agora? O que faço? Foi quando tive um insight. Olhei para o braço do Mano Brown onde tem uma tatuagem igual a cruz da capa. Sugeri: ‘Mano, por que não fazemos a capa com essa cruz do seu braço?’ Ele perguntou: ‘Dá para fazer?’ Eu disse: ‘É para já!’ Rabisquei a cruz num papel (esse da imagem) e depois o Rodrigo Pereira finalizou. Por 18 anos o Marcelo Rainho guardou o rascunho e me deu de presente novamente. Foi um dos trabalhos mais bacanas que fiz na minha carreira. E foi o presente que o prefeito Haddad deu para o Papa.”










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