Um pouco sobre Dr. Dre, Death Row e seu sucesso com a Beats, adquirida pela Apple por $3 bilhões de dólares
Se você é fã de hip-hop, nada mais justo que saber quem é Dr. Dre. (Você não é obrigado a saber de nada, mas Dre é Dre, cara.) Sua notoriedade começou a surgir quando era DJ em um clube em Los Angeles junto com seu grupo World Class Wreckin’ Cru no final dos anos 80. Em um avanço rápido, ele, juntamente com DJ Yella, Eazy-E, MC Ren e Ice Cube, formaram o N.W.A — e foi uma das melhores coisas que poderiam surgir no gueto americano.
O novo Dre
Com a disponibilização do Straight Outta Compton em 1988 e a saída de Cube um ano depois, muita coisa mudou. Em 1991, saiu do forno Efil4Zaggin, o álbum mais perigoso do ano e até hoje icônico. Em 1992, após a dissolução do N.W.A, muita coisa foi acontecendo. Dre conhecia Marion Hugh “Suge” Knight, uma das pessoas mais temidas dos anos 90 graças ao seus 1,88 de altura, morador de Compton e membro nato da MOB Piru, um conjunto dos Bloods. (Dizem as más línguas que Suge Knight foi com uns de seus homies Bloods até Eazy e fez com que ele libertasse Dre do contrato.) Após sair da Ruthless Records, Dre, Suge e The D.O.C., um grande amigo que veio do Texas para Los Angeles e ajudou muito no N.W.A, edificaram a Death Row Records. Na estréia, Dre dropou The Chronic, um disco onde muitos acreditaram ter sido o passo inicial do G-Funk, que segundo muitas outras pessoas, não — mas sem dúvida foi o que popularizou o subgênero. Por conseguinte, após uma belíssima aparição em The Chronic, a Death Row assinou com Snoop Doggy Dogg e Tha Dogg Pound, ambos tendo produções de Dre em seus álbuns de estréia — Doggystyle (1992) e Dogg Food (1995) — lançados pela Death Row e Interscope Records [a gravadora do iluminado Jimmy Iovine, com quem Dre viria a colher grandes frutos].
Com a ascensão vieram os problemas: foi descoberto que Suge Knight contratava policiais de folga para serem seguranças da gravadora, que logo se tornaram (acredite se quiser) membros da gangue Blood. (Isto ficou conhecido como Escândalo de Rampart.) Ademais, como se não bastasse, a gravadora começou a estar envolvida em vários assassinatos por Compton.
Dre sempre foi de Compton, [mas] um homem de trabalho e longe de qualquer envolvimento com gangues. Prevendo problemas, optou por arrumar suas coisas e montar seu próprio negócio novamente, mas com uma condição: dar seu single de estréia (“California Love”) pela sua nova Aftermath Entertainment a Tupac Shakur, que pouco antes de sua saída havia assinado com a Death Row e marcou o mundo do hip-hop com o primeiro álbum duplo do gênero, All Eyez On Me em 1996. Ele foi forçado a fazer isso, ou Suge iria mostrar seu outro lado a Dre. (Informação corroborada no link acima, do AEOM.) O resto é história.
Saída da Death Row e sucesso com a Aftermath
“Quando decidi deixar a Death Row Records, comecei minha nova gravadora: Aftermath”, disse Dr. Dre à minissérie da Netflix, The Defiant Ones. “Não há nada pior que lançar um fracasso. Todo mundo que está com você vários anos viu a coisa afundar. Foi um desastre (...) Eu lancei o disco, e não estava vendendo fácil. Mas é hora de ir em frente e lançar algo novo.” E apesar de passar por fracassos ao lançar dois álbuns de seus artistas assinados, ele finalmente se levantou quando foi até a garagem de Jimmy para ouvir coisas novas e ficou pasmo quando ouviu um tal de Eminem [hahaha]. “Eu me lembro dele pegando uma fita”, continua Dre: “Ele pôs no toca-fitas e eu falei: ‘Que porra é essa, e quem diabos é isso? Rebobine isso, toque de novo.’” Além da descoberta de Eminem, em 1999 ele tirou do forno o mais-que-impecável 2001, onde vende 10 milhões de cópias e Dre cala a boca de muita gente que achava que ele nunca mais faria algo como em sua estréia em 1992. A partir daí, Aftermath decolou, lançando, junto com a Interscope, álbuns de sucesso como Get Rich Or Die Tryin’, do 50 Cent, The Eminem Show, do Eminem, The Documentary, do The Game e tendo Jimmy lançando explosões como Black Eyed Peas, Gwen Stefany, Nelly Furtado, e outros que fizeram história.
“Aftermath era a marca do Dre. Eu comecei com a Interscope”, disse Jimmy Iovine em The Defiant Ones. “Eu recebi muita pressão corporativa para me livrar de Dre. Eu disse: ‘Claro, podemos fazer isso. Aí você economiza o meu salário também, pois eu vou com ele.’”
A mentalidade de Dre sempre esteve além das fronteiras. Sua amplitude para enxergar longe fez com que ele se tornasse quem é hoje. Em 1997, ele concedeu uma entrevista dizendo: “O negócio de discos. É exatamente o que é. Um negócio de discos. E você tem que cuidar de ambos. É um trabalho. Não é sobre quem tem mais jóias. É sobre economia. Quero meus filhos começando em outro nível. Não quero que comecem nos projetos. Não importa quanto se trabalha no estúdio, você não sabe se as pessoas vão entender.”
Beats By Dre
Com a expansão da mente, você pode ser capaz de fazer muita coisa e mudar até o que parecia imutável. Um exemplo disso é Andre Young, a.k.a Dr. Dre, que estava na varanda em sua casa de praia para tomar um pouco de ar e Jimmy Iovine estava andando na praia. Foi quando Dre falou com ele e logo Jimmy subiu para trocar um papo de futuro. “Estávamos sentados, descarregando a alma”, disse Dre. Uma empresa de tênis queria o endosso dele. Eles queriam que Dre desse uma moral, porra, por que não? Depois de marcar o final dos anos 80 recebendo até carta do FBI por causa da música “Fuck tha Police” e estourar solo em 1992 e em 1999, era hora de visar outros patamares. Mas Dre foi direto e reto. “Cara, eu não sei nada sobre moda ou nada do tipo.” No entanto, ele tratava produtos da mesma forma que fazia discos. Ele recusou dezenas de patrocínios. Na época, se perguntasse a Dre para fazer algo assim, sua resposta seria: “Não. Não, não. Não.” Só que ele fez uma coisa importante: respirou e deixou claro que não sentia interesse em se envolver com moda porque ele não é um Chris Brown da vida, que tem milhares de tênis: Dre, se você reparar bem, sempre usou Nike Air Force 1 Low, branco. Essa é sua paixão, mas sem aquela extravagância de ter milhares de pares. Ele sempre usou o mesmo, todos os dias. Ele estava contando a Jimmy essa história e, do nada, [Jimmy] disse: “Cara, foda-se os tênis. Faça alto-falantes e fones de ouvido. Diferentes tipos de alto-falantes.” E ele [Dre] disse: “Podemos fazer isso?” Jimmy: “Absolutamente.” E Dre, extasiado, disse: “Olha, quer saber? Podemos chamar de ‘Beats’. E Jimmy disse: ‘Isso’ e se levantou e saiu.
“Do momento que ele subiu até a minha casa, até sair, foram uns dez minutos. Poucos dias depois ele me chama em seu escritório. De repente, estou com uns cem fones de ouvido de vários modelos. Foi quando realmente pensei: ‘OK, vamos realmente fazer isso.’” Visto que todos os fones de ouvido soavam pedantes e pareciam equipamento médico. “Queríamos mais baixo nos fones de ouvido para exagerar tudo neles”, lembra Jimmy, continuando. “Queríamos deixá-los com esteróides.”
“Dre mudou minha vida. Dre mudou a vida da minha família.” — Jimmy Iovine
“Os fones de ouvido Bose eram anunciados como canceladores de ruídos, silêncio total”, diz Jon Landau, produtor. “E Jimmy indagou: ‘Cancelador de ruído?’ Sim, são fones de ouvido que você usa para dormir no avião.” Com a bênção de Robert Brunner, o incrível designer lançou esse símbolo da Beats By Dre.
Lembrem-se que Beats foi gigante na comunidade urbana. Uma vez a febre criada, virou declaração de moda.
“Jimmy e Dre criaram essa coisa do nada”, lembra Snoop Doggy Dogg. “‘Ei, pessoal, querem usar os fones de ouvido do Dre? Dre os ama. Ele vai mandar uns.’”
Eles foram de 26 mil para 1,6 milhões de fones de ouvidos em um ano. Dos artistas, mudaram o foco para atletas. Afinal, o marketing era natural. O lance era expandir o negócio da melhor maneira possível para atingir o alvo certo. Atletas abraçaram Beats porque música faz parte do ritual de treinamento.
Nas Olimpíadas de 2008 em Pequim, China o time americano de basquete sai do avião usando os fones da Beats, o que foi uma surpresa para todos os envolvidos no negócio. “Quando vimos a resposta explosiva ao uso de LeBron [James]”, continua Paul Wachter, consultor de negócios de Jimmy Iovine, “percebemos que esta visão original de cultura e produto acontecia ante nossos olhos.”
Eles disseram: “Música identifica. Façamos cada país ter seu produto.” E foi aí que a merda começou a feder de verdade. Era controverso. Eles não deviam usar nada além dos patrocinadores oficiais. E, ao ver que a coisa estava se expandindo, foram proibidos de usar os fones.
“COPA DO MUNDO FIFA PROÍBE QUE JOGADORES USEM O POPULAR FONE DE OUVIDO DO DR. DRE” se tornou trivial nas capas dos jornais. Os fones foram banidos da NFL. Estavam começando a achar que era proposital. Um marketing sinistro realizado inteiramente por Jimmy Iovine. “São como Jordans dos fones de ouvidos”, disse Eminem. “Eu ficava pensando: ‘Cara, foda-se essa coisa de Beats. Eu quero que Dre faça um álbum e agora ele está falando sobre fones de ouvido.’”
“Ajusto os alto-falantes da minha casa, do meu estúdio há mais de 25 anos”, disse Dre. “Mas muitas pessoas não se importam, não sabem, sobre a qualidade de som. Por isso estamos aqui. Estamos fazendo nossa parte para mudar isso.”
“Anos atrás ele dizia: ‘Não sou homem de negócios, sou homem de música’”, lembra sua mãe, Verna Griffin. “Mas eu diria que ele cresceu nos negócios.”
Eminem lembra que sempre que faziam algo, aparecia Jimmy com os fones. Lembro que eu pensava: “‘Por que é tão importante?’”
Jimmy estava desde 2003 tentando entrar no ramo da transmissão, mas tentou que outros fizessem. Ele tentou a Apple. Ele costumava ir a Eddie e Steve e dizer: “Vamos entrar no ramo do streaming.” E eles diziam: “Ainda é muito cedo.” Não sentiam o momento da Apple fazer. E Jimmy disse: “Ninguém fará para nós. Façamos nós mesmos.” Foi aí que surgiu a Beats Music, tendo a Apple por trás, senão a coisa não ia fluir. Eles têm mais dinheiro real que o governo americano. Você tem noção disso? É algo para lá de rico!
E quanto a Dre? Ele corroborou as notícias na época de que a Apple adquiriu a Beats por $3 bilhões de dólares. Foi simplesmente o maior negócio da Apple até hoje.
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